Thursday, December 17, 2009

Fontes sobre as Origens da FamíliaBezerra era Pernambuco, Portugal,Galicia e Israel

Fontes sobre as Origens da FamíliaBezerra era Pernambuco, Portugal,Galicia e Israel


Este artigo dá sequência ao trabalho pioneiro de Vinícius Bar-ros Leal, "Os Bezerra de Menezes: Origens", Fortaleza, edição doautor, 1979. Outro crédito especial é dado a Luís Edgar de Andrade,por suas recentes pesquisas em Portugal, facultando o acesso à obrade Filgueiras Gaio, adiante referida. Comporta, ainda, uma home-nagem aos estudiosos da família no Ceará, em especial António Be-zerra de Menezes, o historiador, fundador do instituto, e suas filhasGeórgia e Maria José; Antonio Theophilo Bezerra de Menezes e osirmãos Murilo e Walder Bezerra de Sá, seus netos; D. Pompeu Be-zerra Bessa, Raimundo Teles Pinheiro, Fernando Câmara, Francis-co de Assis Arruda Furtado e o mestre maior da genealogia cearense,Raimundo Girão. A lista de homenageados se completa com os doisprimeiros nomeados, Vinícius Barros Leal e Luís Edgar de Andrade.O escopo do trabalho é sistematizar as informações contidasnas fontes documentais e bibliográficas pesquisadas pelo autor. Apartir das referências indicadas, outros pesquisadores terão faci-litados os seus estudos, seja no sentido de ampliar a compreensãodas origens da família, seja na correção de erros eventualmentecometidos.A base documental primária mais antiga que se tem de umBezerra em solo brasileiro é um depoimento prestado na vila deOlinda, em 16 de maio de 1594, perante o Licenciado Heitor Furtadode Mendonça, Visitador do Santo Ofício. O depoente apresentou-se àInquisição para denunciar um caso de blasfémia.Ao iniciar seu depoimento, assim se qualificou:"Domingos Bezerra... disse ser christão velho natural de Vianafoz de Lima filho de Antonio Martins da Boda e de sua mulher MariaMartins Bezerra gente nobre defunctos de ydade de sessenta e oytoannos, casado com Brazia Monteiro dos da governança desta terra eque disse ser fidalgo de geração morador na sua fazenda da Várzeafreguesia de Nossa Senhora do Rosário..." (Mendonça, 1929: 271).109Page 2Rpvista do Insl.il.ulo do Ceará - ¡994No dia 1 de junho de 1594 foi chamada para depor, como teste-munha de outro caso, a esposa de Domingos Bezerra. Ela se qualifi-cou nos termos seguintes:"Brazia Monteiro... disse ser christãa velha, natural desta Ca-pitania casada com Domingos Bezerra dos da governança della, deydade de quarenta annos pouco mais ou menos moradora na sua fa-zenda da Várzea" (Mendonça, 1929: 281).O original manuscrito da Visitação do Santo Ofício às Partesdo Brasil permaneceu guardado na Torre do Tombo, em Lisboa, doséculo XVI ao século XX. O grande historiador brasileiro Capistranode Abreu, cearense, obteve do historiador português J. Lúcio de Aze-vedo, seu amigo pessoal, a intermediação necessária para obter có-pia do documento. Antonio Baião, na época Diretor daquele princi-pal arquivo português, reviu pessoalmente a cópia. Paulo Prado, tam-bém amigo de Capistrano, patrocinou a publicação em São Paulo(Mendonça, 1929: XXXIII).O mesmo Domingos Bezerra aparece mencionado em outrosdepoimentos de denunciantes ou de testemunhas, acerca de di-versos eventos inquiridos pelo Visitador. Repetidas vezes ele édesignado pelo nome Domingos Bezerra o Velho (Mendonça, 1929:77; 84; 273; 285). Sendo assim, deveria haver um segundo Domin-gos, mais novo.Em 1675, um filho deste e neto do primeiro ingressou na Ir-mandade da Santa Casa de Misericórdia da Cidade de Olinda. Oassentamento à fi. 13 do livro de posse está assim redigido:"Aos 27 de Janeiro de 1675 se assignou por irmão com termoCosme Bezerra Monteiro natural de Pernambuco, filho legitimo deDomingos Bezerra de Barbuda e de Antonia Rodrigues Delgado; netopor parte paterna de Domingos Bezerra de Barbuda e de BraziaMonteiro, e por parte materna de Cosme Rodrigues e de Simoa daRosa; e casado com D. Leonarda Cavalcanti, filha de Antonio Caval-cante de Albuquerque e de D. Margarida de Souza, todos desta terra"(RlACP. 1866: 313).O ingresso de irmãos na antiga Irmandade da Misericórdia deOlinda foi objeto da palestra proferida pelo Major Salvador Henriquede Albuquerque, 2o Secretário do Instituto Archeologico e GeographicoPernambucano, na 48a sessão ordinária, realizada em 3 de agosto de1865. A ata da sessão, publicada na Revista do Instituto, não repro-duz o texto da palestra, mas transcreve 17 termos assinados pornovos irmãos, entre os quais o de Cosme Bezerra Monteiro.Page 3Fontes sobre as origens da Família Bezerra em Pernambuco, Portugal e GaliciaOs dados apresentados, procedentes de fontes primárias, ajudama entender melhor e a corrigir detalhes da "Nobiliarchia Pernambucana",de Antonio José Victoriano Borges da Fonseca (1718-1786) (Fonseca,1935). Esta constitui a mais extensa documentação genealógica organi-zada no Nordeste colonial. Os manuscritos originais, compondo quatrovolumes, estiveram sob a guarda do Mosteiro de São Bento de Olindapor mais de vim século. O exame do texto permite deduzir que o autor oredigiu de 1748 a 1781, com eventuais interrupções. Há evidências deadições posteriores, sem ser possível datá-las com exatidão. A pedidodo Barão de Studart, foi feita uma cópia em fins de 1891 e inicio de1892. A publicação só veio a ocorrer em 1935, pela Biblioteca Nacional,em dois volumes (Mello: 148-152; 161-163).As quatro primeiras gerações de Bezerra, referidas nas fontesprimárias citadas, encontram-se na Nobiliarchia, com algumas alte-rações nos nomes, porém com as identidades bem caracterizadas. Eimportante observar as coincidências e diferenças, a serem objeto deanálise posterior. No Título de Bezerra Felpa de Barbuda consta:"'1 A família de Bezerra Felpa de Barbuda é das mais ricas dePernambuco e nelle consta os mesmos annos que a sua po-voação, porque procede de Antonio Bezerra Felpa de Bar-buda, natural de Ponte de Lima, e de sua mulher Maria deAraújo, que vieram a dita Capitania com o primeirodonatário. Délies foi filho:2 Domingos Bezerra Felpa de Barbuda, que do Livro Velhoda Sé consta que fallecerá a 18 de Outubro de 1607 e quefora sepultado na dita igreja. Foi casado com BraziaMonteiro, que do mesmo livro consta que havia fallecido a12 de Outubro de 1606. Esta Brazia Monteiro foi filha dePantaleão Monteiro, primeiro Senhor do Engenho de S.Pantaleão da Várzea do Capibaribe, a que ainda hoje cha-mam engenho do Monteiro e de sua mulher Brazia Monteiro.Nasceram desse matrimonio:3 Domingos Bezerra Felpa de Barbuda, adeante" (Fonskca,1935:1: 35)."3 Domingos Bezerra Felpa de Barbuda casou com AntóniaRodrigues Delgado, filha de Cosme Rodrigues e de sua mu-lher Simôa da Rosa e foram seus filhos:4 Cosme Bezerra Monteiro, que continua.4 Simôa Bezerra, adeante".Page 4lievistti do Instituto do Ceará - 1991 ___"4 Cosme Bezerra Monteiro, que ainda vivia em 1763 (sic) [errode cópia], como se vê do termo de Irmão da Misericórdia,que assignou a 27 de Janeiro do dito anno; foi casado, comoconsta do dito termo, com D. Leonarda Cavalcante deAlbuquerque, filha de Antonio Cavalcante d'Albuquerque,o da guerra e de sua mulher D. Margarida de Sousa, emtítulo de Cerqueiras Cavalcante" (Fonseca: 1: 39).De Simoa Bezerra, irmã de Cosme Bezerra Monteiro, proce-dem os Bezerra de Menezes cearenses. Foi casada com BentoRodrigues da Costa, filho de Manoel Rodrigues e Mana Simões. Simoae Bento foram pais de Bento Rodrigues Bezerra, pernambucano, quecasou com Petronila Velho de Menezes, baiana, dando origem aosobrenome Bezerra de Menezes adotado pelas gerações seguintesDos filhos de Bento e Petronila quatro tornaram-se troncos da famí-lia no Ceará: João Bezerra Monteiro (os descendentes deram prefe-rência ao Bezerra de Menezes), no Cariri; Francisco e Jerónimo Bezerra de Menezes, nos vales do Acaraú e do Aracatiaçu; Joana Bezerra de Menezes, no vale do Jaguaribe, em particular o Riacho doSangue.Para se conhecer as gerações de Portugal e da Galicia, a pri-meira fonte é uma certidão obtida em Lisboa pelo Capitão AmaroBezerra. Declarando-se natural do Rio de S. Francisco, Capitania dePernambuco, requereu que se lhe passasse uma certidão de brasãode armas, fidalguia e nobreza. A certidão foi feita por Joseph da CruzPaulino e subscrita por Joseph Duarte Colusedo, escrivão da nobre-za, datada em 10 de julho de 1718. Dez anos depois* em 4 de novem-bro de 1728, o Tenente Coronel Francisco Alves Camello requereuao Tabelião da Villa do Penedo, Rio de S. Francisco. Comarca deAlagoas, Capitania de Pernambuco, o traslado desse documento.Borges da Fonseca o transcreveu na íntegra na sua NobiharchiaPernambucana (Fonseca: II: 345-347) e por essa forma o seu conteú-do foi preservado.Fundamental, para a matéria em exame, é o trecho onde sealinham os nomes dos antepassados galegos e portugueses dos Be-zerra de Pernambuco. A ordem é inversa da comum, ou seja, seguede filho para pai, avô, bisavô e demais gerações em linha ascenden-te. O teor da certidão, nesse particular, está assim redigido:"... e todos são descendentes de Martim Bezerra, Fidalgo do Rei-no da Galisa, que por uma morte que fez passou a Portugal, constaser filho de Rodrigo Fernandes Bezerra, neto de Lopo Bezerra, bisne-to de Fernão Bezerra de Moscoso, terceiro neto de Lopo Bezerra dePage 5Fontes sobre as origens da Familia Bezerra em Pernambuco, Portugal e GaliciaMuscoso, irmão de D. João Fernandes de Andeiro que foi conde deOrem neste reino e governou como valido e primeiro ministro dosSenhores reis D. Fernando e D. Leonor Telles. Quinto (sic) [quarto]neto de Martim Bezerra de Moscoso. irmão de D. Nuno de Moscoso,Arcebispo de Santiago g de D. Affonso de Moscoso. bispo deMondonhedo; quinto neto de Fernão Bezerra e de sua mulher D. Mai-or Fernz. [Fernandes] de Moscoso, filha de Lopo Pires de Moscoso, dequem procede a casa dos Condes de Altamira, grandes de Hespanha,que é uma das principais daquella monarchia e é a família dos Bezer-ras muito antiga e della fala o Conde D. Pedro de Barcellos. filho deEl-rei D. Deniz no seu Nobiliário, dos quais todos descendia elleSupplicante e que sempre se trataram á lei de nobreza, sempre nellesnão houve raça de infesta nação" (Fonseca: II: 346).O ''Nobiliário das Famílias de Portugal", de Manuel José daCosta Fììgueiras Gaio (1750-1831) (Gaio, s.d.) apresenta umreferencial para cotejar os dados da certidão passada ao CapitãoAmaro Bezerra. Os registros se iniciam mencionando os ancestraismais recuados que o autor pôde identificar. Prossegue em linha des-cendente, até encontrar a quarta geração da família no Brasil e ge-rações contemporâneas em Portugal. Por serem numerosas as gera-ções, os detalhes e as palavras abrevadas, seria longa uma transcri-ção completa. Apresenta-se, apenas, a linhagem que chega a CosmeBezerra Monteiro. Recompondo as palavras abreviadas, mas respei-tando a redação do autor, a síntese da sucessão assim se configura:1. João Bezerra houve de D. Maria Rodrigues Codorniz filhade Rodrigo Fernandes (Ruy, abreviado, no original)Gonçallo Gomes Bezerra o Sordo.Destes poderia passar algum a Castelã, e de lá tornarem apassar a Portugal.João Bezerra a que outros chamão Gonçallo Annes Bezerranão sabemos de quem era filho cazou com D. MariaRodrigues Codorniz filha de Rodrigo Fernandes Codorniz.Gonçallo Gomes Bezerra o SurdoGonçallo Gomes Bezerra filho de João Bezerra cazou com(o Conde D. Pedro não trata dos ascendentes deste GonçalloGonçalves Bezerra nem do seu Irmão Soeiro GonçalvesBezerra).Gonçallo Gonçalves BezerraSoeiro Gonçalves BezerraPage 6iuta do Instituto do Ceará - 19913. Soeiro Gonçalves Bezerra filho de Gonçallo Gomes diz oConde D. Pedro foi de mãos feitos e que seus filhos forão omesmo como elle e entregarão Castellos que tinhão na Bei-ra sendo traidores, entregando-os ao Conde de Bolonha D.Affonso quando veio por Governador não diz mais o CondeD. Pedro mas nos dizem ter Fernão Bezerra" (Gaio, s.d.:VII: 28)."4. Fernão Bezerra filho de Soeiro Gonçalves Bezerra cazouem Galiza e talvez lá se estabelese-se por ser traidor nesteReino onde casou com D. Mayor Fernandes de Moscozo fi-lha de Lopo Pires de MoscozoD. Nuno de Moscozo Arcebispo de S. ThiagoD. Affonso Bispo de MondonhedoMartim Bezerra de Moscozo5. Martim Bezerra de Moscozo filho de Fernão Bezerra cazoucom ... do CampoLopo Bezerra de MoscozoD. Mayor Bezerra mulher de Fernão Sanchez de Moscozo6. Lopo Bezerra de Moscozo filho de Martim Bezerra deMoscozo não se nos diz se cazara só que teve Fernão LopesBezerra7. Fernão Lopes Bezerra filho de Lopo Bezerra igualmente senão diz mais que teve Lopo Fernandes Bezerra8. Lopo Fernandes Bezerra filho de Fernão Lopes igualmentese nos não diz mais que teve Rodrigo a que outros chamãoD. Affonso Bezerra9. Rodrigo Bezerra, ou D. Affonso Bezerra como dizem outrofilho de Lopo Fernandes Bezerra teve de Violante MoscozoMartim Bezerra10. Martim Bezerra filho de Rodrigo ou D. Affonso Bezerra.Cazou com...11. Antonio Pires Bezerra adiante no... que não seguimos queteve segundo o Nobeliario de Turis12. Domingos Nunes Bezerra (Gaio: VII: 29).(3) Outros fazem estes filhos de Pedro Nunes a saber FernãoBezerra, Domingos Bezerra e D. Mecia Gonçalves filhos deAntonio Pires Bezerra e netos de Martim Bezerra no prin-cipio deste título o que não seguimos (Gaio: VII: 30).Page 7Fontes sobre as origens da Família Bezerra em Pernambuco. Portugal e Galicia4. Domingos Bezerra filho de Pedro Nunes Bezerra que pas-sou ao Brazil (Domingos Bezerra no Nobeliario de Turis sediz filho de Antonio Pires Bezerra e neto de Martim Bezer-ra) cazou com D. Brazia Monteiro filha de... Monteiro deMonte Mor o velho) (Gaio: VII: 31).5. Domingos Bezerra Monteiro filho de Domingos Bezerracazou com D. Antonia Rodrigues Delgado6. Cosme Bezerra Monteiro6. Cosme Bezerra Monteiro filho de Domingos Bezerra cazouno Brazil com D. Bernardo [evidente erro de composição](Leonarda) Cavalcante filha de Antonio Cavalcante Mestrede Campo e Governador no levantamento de Pernambuco...(Gaio: VII: 32).É importante notar que Felgueiras Gaio admite ser Pedro Nunes"Bezerra o nome do pai de Domingos Bezerra, e não Antonio Pires(sic) Bezerra. No entanto, registra a alternativa que ele rejeita eindica a fonte. A alternativa por que optou não foi a correta. Nãoobstante, o propósito de ser fiel às pesquisas que empreendeu o le-vou a registrar a segunda alternativa, que se revela mais próximadas fontes documentais primárias conhecidas e das fontes secundá-rias preservadas no Brasil. Com efeito, salvo os detalhes de nomes, omencionado "Nobeliario de Turis" indica a sequência correta de ge-ração entre Domingos, seu pai António e seu avô Martim Bezerra.Por conseguinte, dispõe-se de outra fonte para cotejar a sequênciade gerações inserida na certidão passada em 1718 ao Capitão AmaroBezerra (Fonseca: II: 346).Ouso levantar a hipótese de que o 'Tires" de Antonio Bezerrafoi erro de leitura paleogràfica. Poderá ter sido cometido pelo autorda fonte consultada por Felgueiras Gaio, ou por ele próprio no ma-nuscrito da sua obra. Consoante a formação de nomes em Portugal,na época, o mais correto é que Antonio filho de Martim Bezerra vies-se a se chamar Antonio Martins Bezerra.Sobre Lopo Pires de Moscozo e Martim Bezerra de Moscozo,referidos nos números-4 e 5 da lista de Felgueiras Gaio, o historia-dor galego Vasco de Aponte faz menção a ambos, nomeando-os LopePérez de Moscoso e Martin Bezerra de Canees (Aponte, 1986: 171),citando sua fonte consultada, López Ferreiro, História, VII, 124, esta,todavia, não disponível. Sobre a esposa de Martin, que aparece refe-rida simplesmente "... do Campo", outro historiador galego, GarciaOro, registra que a família Moscoso se enlaçou com os burgueses115Page 8Heriala do Instituto do Ceará - 199!compostelanoe Do Campo (Garcia Oro, 1987:116: 265; 268-269). Per-manece desconhecido o nome da esposa de Martin, mas ficaidentificada a sua origem.Nomes e eventos citados na certidão passada ao Capitão AmaroBezerra e no trabalho de Felgueiras Gaio são referendados em docu-mentos antigos.O "Livro do Deão", que forma uma das partes dos "Livros Ve-lhos de Linhagens", escrito no século XIV, faz referência ao Bezerramais recuado da listagem de Felgueiras Gaio e às circunstâncias donascimento do filho:"E o sobredito dom Rodrigo Fernandes Codorniz, irmão de domJoão Fernandes Batissela. foi casado com uma dona e fege neladona Maria Rodrigues CodornizE esta dona Maria Codorniz rouçou-a João Bezerra de casa dedom Rodrigo Gomes, e fege nela Gonçalo Gomes, o Gordo" {PMH.1980a: 206-207).Pesquisador das famílias medievais portuguesas, o historiadorJosé Mattoso (Mattoso. 1985) levantou a ascendência de D. RodrigoFernandes, o Codorniz. Foi filho de D. Fernando Aires de Lima, emoutros documentos D. Fernão Aires d'Anho Batissela, e de D. TeresaBermudes de Trava. Esta, filha de D. Bermudo Peres de Trava e deD. Urraca Henriques de Portugal. D. Bermudo foi filho de D. PedroPeres de Trava e D. Teresa, irmã de D. Afonso Henriques, primeirorei de Portugal, filha do conde D. Henrique de Borgonha e de D.Teresa de Leão e Castelã.É importante observar que tanto em Felgueiras Gaio, como noLivro do Deão e outras fontes antigas, os nomes aparecem com fre-quência em forma abreviada, a exemplo de Ruy, Rui ou Roi paraRodrigo, Frz para Fernandes etc. Nestes casos, as formas abrevia-das foram colocadas na sua forma extensa, atual.Anterior ao livro precedente, o "Livro de Linhagens" do CondeD. Pedro de Barcelos (1280-1354), inclui um registro explícito à con-duta reprovável de Soeiro Gonçalves Bezerra e seus filhos:"E este Sueiro Bezerra houve filhos tam mãos como ele e tammãos feitos foram treedores. também o padre como os filhos, ca derompeça de castelos na Beira, que tinham dei rei Dom Sancho, a quehaviam feita menagem por eles e deram-nos ao conde dom Afonso deBolonha, quando vinha por governador do regno per mandado do Papa"(PMH, 1980b: II/2: 147).Page 9Fontes sobre as origens da Familia Bezerra em Pernambuco, Portugal e GaliciaAtravés da literatura trovadoresca contemporânea do evento,que ocorreu por volta de 1247, identifica-se que Soeiro Bezerra en-tregou o castelo de Monsanto e seu filho Rodrigo Bezerra (Roi, abre-viado, na cantiga) o castelo de Trancoso. Trata-se de uma cantiga deescárnio e mal dizer da autoria de Airas Peres Vuiturom, que seacha no Cancioneiro da Biblioteca Nacional, N° 1478, e no Cancio-neiro da Vaticana, N° 1088- Ambos, D. Pedro e Airas Peres, referem-se a filhos, no plural. Quais os seus nomes e os respectivos castelosde que eram alcaides, não há registro. Identifica-se apenas os doiscastelos anteriormente relacionados. Os versos que mencionam osBezerra são os seis primeiros e outros quatro no meio:A lealdade dos Bezerra, que pela Beira muito anda;bem habetur qu'antradenhamos; pois quando Papa mandaNom tem Soeiro Bezerra que terr'é em vender Monsanto,ca diz que nunca Deus diss[e] a Sam Pedro mais de tanto:- Que tu legares em terra erit ligatum in celo.Porém diz ca nom é torto de vender outro castelo!Ofereceu Trancos[o] ao conde Roi Bezerro:falou entom dom Soeiro, por sacar seu filho d'erro:- Nom potest filius meus sine patre sue faceré quidquam,Salvos som os traidores, pois bem isopados ficam.(CP, 1961:67-69)Um detalhe interessante no documento de 1718 é que JosephDuarte Colusedo, escrivão da nobreza, ao mandar Joseph da CruzPaulino fazer a certidão a ser passada ao Capitão Amaro Bezerraseguramente orientou o escriturário para que parasse na geraçãoimediatamente anterior a Soeiro Gonçalves Bezerra. Não ficaria bempara o destinatário dispor de um documento que por um lado onobilita, mas que por outro o faz descender de um traidor da pátria.Ainda em relação ao mesmo documento cabe uma retificação.O texto, ao referir-se a Lopo Bezerra de Moscoso, qualifica-o comoirmão de João Fernandes de Andeiro, Conde de Ourem. As evidênci-as indicam que Lopo Bezerra foi cunhado da mulher de JoãoFernandes de Andeiro. A Crónica do Rei Dom Fernando, de FernãoLopes, escrita no século XV, contém uma passagem com a seguinteinformação:117Page 10Rci-ista do Instituto do Ceará - 199-1 ____"Omde sabee, que Joham Fernamdez vivemdo na Crunha,morreo Femara Bezerra, huum cavalleiro muito honrado de Galliza;e sua raolher, a que ficara huum filho que chamavom Joham Bezerra,casou com este Joham Fernamdez, que chamavom Damdeiro, postoque não fosse igual pera casar com ella; e houve Joham Ferandezdella quatro filhas, e huum filho: ... Sua molher do comde avja nomeDona Mayor, molher de prol, e de boom corpo" (Lopes, s.d.: 373-374).No século XVI Duarte Nunes de Leão também escreveu umaCrònica dos Reis de Portugal e ao tratar do reinado de D. Fernando,assim se refere quanto ao casamento de João Fernandes de Andeiro:'"Este homem (como staa dito atrás) era Gallego. & casou emGalliza com huma Dona mui honrada, & de melhor sangue que elle,que fora molhei1 de hum Fernão Bezerra, fidalgo principal, de queloam Fernandez houue hum filho & quatro filhas" (Lkão, 1975: 384).Pela configuração dos nomes, foram irmãos Fernão e Lopo Be-zerra. Não há lógica em terem sido irmãos Lopo Bezerra e JoãoFernandes de Andeiro. Presumivelmente, após o segundo casamen-to da cunhada, a lógica aponta no sentido de que Lopo Bezerra atenha acompanhado a Portugal, mantendo relacionamento com JoãoFernandes de Andeiro, protegido do rei D. Fernando e da rainha D.Leonor. Somente assim se entende que a pessoa de João Fernandestenha sido associada à de Lopo e que a descendência deste tenhavindo a fazer parte de um nobiliário português.Para entender os fundamentos da declaração de Domingos Be-zerra ao Visitador do Santo Ofício é essencial ter em conta que ainclusão das duas primeiras gerações de Bezerra nos "Livros Velhosde Linhagens" e das três primeiras no "Livro de Linhagens do CondeD. Pedro" representam reconhecimento de origem nobre. Ademais, ofato de Soeiro Gonçalves Bezerra ter sido alcaide de um castelo e deoutros filhos seus terem ocupado idênticas funções, dá suporte à evi-dência indicada pelos citados hvros. Três gerações após, os registrosde Fernão Lopes e Duarte Nunes de Leão apontam no mesmo senti-do. Não significa, entretanto, que fossem da alta nobreza. JoséMattoso, já citado, faz referência a linhagens secundárias e entreestas inclui a família Bezerra (Mattoso, 1981: 298).Em resumo, as gerações que partem da Galicia até alcançar asduas primeiras de Bezerra em Pernambuco, podem ser esquema-tizadas como adiante se apresenta:Page 11Fontes sobre as origens da Familia Bezerra em Pernambuco, Portugal e GaliciaD. Pedro Peres de Trava D. Henrique de Borgonhac.c. D. Teresa de Leão e Castelãpai de pais deD. Berraudo Peres de Trava c.c. D. Urraca Henriques dePortugalpais deD.Teresa Bermudes de Trava c.c. D. Fernão Aires d'AnnoBatisselapais deD. Rodrigo Fernandes, o Codornizpai deJoão Bezerra e D. Maria Rodrigues Codornizpais deGonçalo Gomes Bezerrapai deSoeiro Gonçalves Bezerrapai deFernão BezerraLopo Peres de Moscosoc.c. D. Mayor Fernandes deMoscosopais de9 Martin Bezerra de Moscosopai de10 Lopo Bezerra de Moscosopai de11 Fernão Lopes Bezerrapai de12 Lopo Fernandes Bezerrapai de13 Rodrigo Bezerrapai de14 Martini Bezerra epais deAntonio Pires [Martins] Bezerra15 = Antonio Martins de Barbudac.c. Maria Martins Bezerrapais de16 Domigos Bezerra de BarbudaPor conseguinte, ao declarar em Olinda, no ano de 1594, pe-rante o Visitador do Santo Ofício, Heitor Furtado de Mendonça,que era fidalgo de geração, Domingos Bezerra afirmou o que reco-nhecia como fato. Ele tinha consciência dos laços que o ligavamaos antepassados.Violante de MoscosoPantaleão Monteiroc.c. Brasia Monteiropais dec.c. Brasia Monteiro119Page 12Reí-isla do Instituto do Cearei - 199-1Para alcançar os troncos no Ceará, as gerações subsequentes,partindo de Domingos e sua mulher, são:16 Domingos Bezerra de Barbuda c.c. Brasia MonteiroCosme Rodrigues ce. Simoa da Rosapais de pais de17 Domingos Bezerra de Barbuda ce. Antonia RodriguesDelgadopais de18 Cosme Bezerra Monteiro c.c. Leonarda Cavalcanti18 e Simoa Bezerra c.c. Bento Rodrigues da CostaSimoa e Bento pais de19 Bento Rodrigues Bezerra c.c. Petronila Velho de Menezespais de20 João Bezerra Monteiro Jerónimo Bezerra de Menezes20 Francisco Bezerra de Menezes Joana Bezerra de MenezesConcluindo: somando-se as 11 gerações de Bezerra de Menezesno Ceará às 20 pesquisadas, são 31 no total. Marcam suas presençasem 9 séculos de história, do século XI ao século XX.Fontes BibliográficasAponte, Vasco de. 1986. Recuento de las Cosas Antiguas del Reinode Galicia. Santiago de Compostela, Xunta de Galicia, Conselleriada Presidencia, Serviço Central de Publicaciones.CP. 1961. Clássicos Portugueses, Cantigas de Escárnio e Maldizerdos Trovadores Galego-Portugueses. Lisboa, Livraria ClássicaEditora.Fonseca, Antonio José Victoriano Borges da. 1935. NobiliarchiaPernambucana, vols. I e II, Rio de Janeiro, Biblioteca Nacional.Gaio, Manuel José da Costa Felgueiras, s.d. Nobiliário das Famíliasde Portugal, (réf. bibliogr. incompleta)Garcia Oro, José. 1987. Galicia- en los Siglos XIVy XV. FundaciónPedro Barrie de la Maza, Conde de Fenosa, MCMLXXXVILLeão, Duarte Nunes de. 1975. Crónicas dos Reis de Portugal refor-madas pelo Licenciado Duarte Nunes de Leão. Porto, Lello & Ir-mão Editores.Lopes, Fernão, s.d. Crónica do Senhor Rei Dom Fernando Nono ReiDestes Regnos. Porto, Livraria Civilização Editora.Page 13Fontes sobre as origens da Família Bezerra em Pernambuco, Portugal e GaliciaM Airoso, José- 1981. A Nobreza Medieval Portuguesa: a família e opoder. Lisboa, Editorial Estampa.Mattoso, José. 1985. Ricos Homens, Infanções e Cavaleiros: a nobre-za medieval portuguesa nos séculos XI e XII. Lisboa, GuimarãesEditores.Mello, José Antonio Gonsalves de. 1986. A Nobiliarchia Pernam-bucana, in Estudos Pernambucanos, 147-194. Recife, Governo dePernambuco, Secretaria de Turismo, Cultura e Esportes/FUNDARPE.Mendonça, Heitor Furtado de. 1929. Primeira. Visitação do SantoOfício às Partes do Brasil Pelo licenciado Heitor Furtado de Men-donça - Denunciações de Pernambuco 1593-1595. São Paulo, Sé-rie Eduardo Prado, Para Melhor Conhecer o Brasil, Homenagemde Paulo Prado.PMH. 1980a. Portugaliae Monumenta Histórica, Livro do Deão, inLivros Velhos de Linhagens. Lisboa, Publicações do II Centenárioda Academia das Ciências.PMH. 1980b. Portugaliae Monumenta Histórica, Livro de Linhagensdo Conde D. Pedro. Lisboa, Publicações do II Centenário da Aca-demia das Ciências.RLAGP. 1866. Revista do Instituto Archeologico e Geographico Per-nambucano. Recife.

1 comment:

  1. Saudações a todos... Me chamo Marcos Vinícius da Silva Bezerra,paulistano, filho de Carlos Augusto Bezerra, nascido no Rio Grande do Norte

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